Malú

 

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Sinopse

Maria Luísa vê sua vida mudar com a morte de sua mãe. Ela é forçada a morar com a família de seu pai , um homem a qual ela nunca conheceu , sendo afastada de seus amigos e sua tia Aline. Como se não bastasse , no meio a sua dor ela perde algo que lhe é precioso : Sua voz. Agora ela precisa lidar com essa nova situação e descobrir mais a respeito do que fez seu pai abandoná-la.

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Prólogo

Belo Horizonte, 25 de Junho de 1998.

— Maria Luísa - diz Anna passando a mão na barriga por cima do vestido bege que usa.

Ela está deitada na grama junto com seu namorado, Thiago, olhando para o céu azul que Anna acredita estar da cor dos olhos de seu amado.

— O que tem o nome da minha mãe? - pergunta Thiago se debruçando sobre a namorada. 

— O nome do bebe será Maria Luísa - responde Anna sorrindo.

— A minha mãe com certeza irá amar a homenagem - diz Thiago sorrindo de volta. Ele olha para a barriga da namorada e murmura — Maria Luísa...

—Sim - responde a loira de cabelos cumpridos, como se ele tivesse perguntado.

— Mas e se for menino? - pergunta Thiago.

—Será menina - responde Anna convicta.

—Como pode ter tanta certeza? - pergunta o rapaz de cabelos negros.

—Simples: eu sonho com ela - responde Anna pensativa — Todas as noites eu sonho com a minha bela menina dos cabelos negros como a noite e olhos azuis como esse céu. Ela será parecida com você em muitos aspectos.

—Então não sabe de fato se é menina? - questiona Thiago.

—Não. - responde Anna — Confirmação só quanto eu estiver com cinco meses.

—Daqui dois meses - diz Thiago. Ele passa a mão na barriga de Anna e diz — Espero estar de volta quando for para descobrir o sexo.

— Estará sim - responde Anna — Tenho certeza que até lá seu pai estará melhor de saúde e poderá conhecer a neta.

—Você deveria ir comigo - diz Thiago sentando — Assim já conheceria a família toda.

— Você sabe que eu não posso -diz Anna, abraçando as costas de Thiago —Estou em época de provas, tenho meu emprego que com certeza irão me mandar embora quando descobrirem a gravidez. Preciso guardar o máximo de dinheiro possível.

—Eu já disse que irei sustentar vocês duas... Que vamos nos casar, não precisa fazer nada disso. Eu tenho dinheiro para nós dois... Agora três.

— Não quero -diz Anna — Por enquanto eu prefiro ficar assim. Pelo menos até eu conhecer sua família.

—Não se preocupe - diz Thiago — Eles vão amar você... Assim como eu.

—Eu amo você Thiago -diz Anna —Não se esqueça disso.

— Eu não vou esquecer - responde Thiago beijando a namorada. —Prometa que sairá do seu emprego desde agora. 

—Mas como eu irei pagar meu aluguel? - pergunta Anna preocupada. — Me sustentar?

—Tome - diz Thiago tirando uma chave de seu chaveiro — Essa é a chave do meu apartamento, fique nele até eu voltar. 

—Eu não posso aceitar - diz Anna.

—Por favor, só quero que tenha uma gravidez tranquila. - enfatiza Thiago — Eu volto rápido e veremos um lugar melhor.

—Tudo bem - diz Anna, pegando a chave. — Só até você voltar.

— Eu estarei de volta antes que perceba - afirma Thiago sorrindo

 

M

Belo Horizonte, Setembro de 1998.

 

Anna caminha tranquilamente pela calçada segurando as sacolas de compras, faltam apenas duas quadras até o apartamento. Assim que vira a última quadra percebe um belo carro estacionado, sabia que não de ninguém que morava naquela rua, pois virou amiga de todos. Aproxima-se do carro e verifica que a placa era de Curitiba, Paraná. Aquela informação fez surgir no rosto de Anna o sorriso que há muito tinha desaparecido. Ele voltou, pensa correndo em direção ao apartamento.

Ela abre a porta do apê nervosa, percebe que a sala está vazia, mas que inalava um perfume feminino diferente do dela. Verifica a cozinha, o banheiro e quando chega ao quarto se depara com uma figura feminina. Uma mulher de quase cinquenta anos, com belos cabelos negros presos em coque, usa um terno preto e óculos escuros.

— Olá - diz Anna curiosa com aquela figura imponente - Posso ajudar?

— Você é Anna Braga? - pergunta, a senhora se levantando elegantemente. Ela tira os óculos mostrando o belo par de olhos azuis.

—Sim - responde Anna - E quem é a senhora?

— Maria Luísa de Almeida - responde a mulher - Mãe do Thiago.

—Prazer em conhecê-la - diz Anna estendendo a mão feliz, mas é repelida pelo olhar gélido da mulher - Ouvi falar muito bem da senhora.

— Bom... Não posso dizer o mesmo de você - responde a mulher, fazendo Anna franzir a testa sem entender - Meu filho pediu para vir até você e lhe mandar um recado.

—Que ótimo - diz Anna passando a mão na barriga, chamando atenção de Maria Luísa - Nós estávamos preocupadas.

—Thiago  disse para você não esperar mais por ele - diz Maria Luísa - Disse que você deve seguir em frente e esquecer que vocês um dia tiveram algo.

—O que? Como assim? - pergunta Anna chocada - Ele não pode ter dito isso... Ele estava feliz... Ele estava feliz com a vinda da nossa filha!

—Filha?- questiona Maria Luísa com um olhar de desprezo - Ele não acredita que seja dele... Há quanto tempo estão juntos? Um ano... Dois?

—Quase um ano...  - responde Anna.

— Mas não tem um ano, certo? - pergunta a Senhora de Almeida - Como acha que meu filho vai confiar em uma pessoa que pode estar tentando dar o golpe na barriga. Que aceitou morar no apartamento e viver praticamente à custa dele. Olha, eu sei que deve ser difícil para você ter investindo tanto no meu filho, mas saiba que não alcançará seu objetivo. Se essa criança for mesma dele, nós daremos uma pensão digna. Mas é tudo o que terá da nossa família.

—Eu não quero o dinheiro de vocês! - diz Anna nervosa - Eu quero meu Thiago! Por favor, me deixe falar com ele. Eu sei que foi um mal entendido.

—Ele não quer falar com você - diz Maria Luísa - E agora sei o motivo. ... Você é insistente, ardilosa... Com esse rosto de santa , o manipula , envenena ele contra a família. Mas a mim você não engana. Já conheci piores que você.

—Por favor - suplica Anna — Eu o amo, jamais quis nada dele. Eu só quero amá-lo e que ele me ame. Quero que ele conheça a filha.

— Não force uma situação, querida - diz Maria Luísa —Quem me garante que esse filho é dele? Pelo que eu vi, você pode estar com o pai dessa criança nesse momento.

—Como ousa? - questiona Anna, ofendida - Eu jamais faria uma coisa dessas...

— Bom... Como irei saber que não é assim? - pergunta Maria Luísa - Afinal nem família você tem... Pode ser uma qualquer que só quer se dar bem... Uma mulher da vida.

—Pare! - grita Anna esbofeteando sua sogra. - Nunca mais ouse a dizer uma coisa dessas a meu respeito!

—Finalmente a santinha do pau oco, deu as caras - diz Maria Luísa se arrumando - Vou ser bem clara: Me entregue às chaves do apartamento. Volte para a rua que é o que merece.

—Tome - diz Anna - Pode ficar... Só quero que se lembre do mal que está fazendo para Maria Luísa.

—Quem é Maria Luísa? - pergunta Maria Luísa intrigada.

—Sua neta. Maria Luísa. — responde Anna 

—Acha mesmo que colocar o mesmo nome que o meu, fará com que seja aceita na família? - questiona a matriarca cética — Como você é tola. 

—Isso nunca foi para você - diz Anna — É o nome que ela merece... Ela fará jus ao nome diferente de você.

—Olha, Anna - diz Maria Luísa — Vamos fazer um acordo. 

— Eu não quero acordo nenhum com você - diz Anna irritada.

— Não é com você e sim por essa criança que não tem culpa de nada - diz secamente.

— Não preciso da esmola de vocês - diz Anna.

—Essa criança precisará de apoio - diz Maria —Então deixe de falso orgulho e aceite a proposta que o Thiago fez.

—Thiago jamais faria uma proposta desse tipo. - alega Anna.

—Não foi uma proposta que a fez mudar para cá? - questiona Maria Luísa.

—Foi - diz Anna se lembrando - Mas é por ter cometido esse engano que eu não irei fazer acordo algum... Nunca.

—Aposto que vai, na hora que apertar - diz Maria Luísa - Ainda mais agora que está no olho da rua. 

—Não irei. Darei meu jeito... - diz Anna, séria. Ela abre o guarda roupa e tira suas poucas roupas de dentro e as joga em sua antiga mala.

—Não precisa sair agora - diz Maria — Você tem até o fim da semana.

— Não - diz Anna nervosa. Ela fecha a mala e diz —Pode ficar... Com tudo. Mas saiba que eu não acredito em nada do que disse... Assim que o Thiago aparecer, contarei para ele.

—Como quiser - diz Maria Luísa abrindo a bolsa — Mas caso se canse de ser orgulhosa, tome meu cartão. Assim que me ligar, digo a ele para enviar a pensão.

—Fique com seu cartão - diz Anna segurando a mala.

—Jovem tola - diz Maria Luísa colocando o cartão no bolso da jaqueta de Anna — Fique, sei que ligará.

Anna se vira e sai do apartamento praticamente correndo. Não imaginava que seu dia acabaria daquela forma. Está no olho da rua e não tem para onde ir. Senta na calçada chorando, não conseguia acreditar que Thiago estaria por trás de tudo aquilo. Passa mão na barriga, onde o bebe chuta forte. Agora somos eu e você contra o mundo.

Seca as lágrimas e começa a andar pela rua , quando encontra Aline , uma jovem de cabelos punk que morava no prédio da frente, Anna era única da rua que conversava com a moça. Ela encara Anna preocupada , enquanto se aproxima.

—Aninha tudo bem? - pergunta segurando no braço de Anna que parecia estar tonta. — O que faz aqui fora ? E que mala é essa?

—A mãe dele me tocou do apartamento, estou no olho da rua. — diz Anna.

—Venha, vamos para minha casa - diz Aline. — Venha morar comigo.

—Você não entende - diz Anna — Eu não tenho como pagar você.

—Anna, não se preocupe - diz Aline séria  — Um dia você retribuirá esse favor. Eu não posso deixá-la aqui no meio da rua. Vamos.

—Obrigada Aline - diz Anna — Eu prometo que um dia retribuirei o favor.

—Eu sei - diz Aline de volta.

M

Na semana seguinte após o episódio do apartamento, foi chamada pelo seu chefe e mandada embora. A justificativa foi o corte no orçamento, vendas baixas, mas ela sabia que o motivo real estava embaixo de seu uniforme alheio aquela injustiça.  Aline passou a pagar as contas da casa, mas Anna sabia que sua amiga não poderia continuar sustentando as três. Sabia que precisava dar um jeito naquela situação, porém a única forma seria entrar em contato com Thiago e exigir que ele ao menos reconhecesse sua filha. Mas o telefone que tinha para entrar em contato com seu namorado se encontrava desligado. Sentia - se perdida  , até lembrar-se do cartão de visitas que a Senhora de Almeida havia deixado. Demorou algumas semanas até de fato ligar para o número do cartão, afinal só ligou porque elas tiveram de mudar do apartamento já que não conseguiam mantê-lo e ir para outro lugar, sendo forçada a escutar a voz daquela que havia revirado seu mundo. 

— Maria Luísa, aqui é Anna - diz a jovem séria ao telefone —Precisamos conversar.

—Quer dizer então que está disposta a aceitar o acordo? - pergunta Maria Luísa indo direto ao assunto.

— Sim - responde Anna —Mas antes, desejo ouvir a proposta da boca do Thiago. Quero fazer o acordo com ele... Pessoalmente.

—Impossível - responde Maria Luísa secamente — O Thiago não poderá fazer isso... Ele está ocupado.

—Isso é mais importante do que qualquer coisa que o esteja impedindo de falar comigo - diz Anna irritada. — Eu preciso fazer esse acordo com ele.

— Ele está organizando o velório do pai... - diz Maria Luísa — Não irei perturbá-lo com... Esse problema. Vamos resolver isso entre nós e o deixarei a par de tudo, não se preocupe.

—Meus pêsames... Mas... Eu não confio em você - diz Anna brava.

—Guarde suas condolências para quem precisa. E eu também não confio em você - retruca Maria Luísa — Mas esse acordo é para o bem dessa criança... Então seja madura e vamos ao que interessa.

— Qual é a proposta? - pergunta Anna.

—A criança receberá uma pensão até terminar os estudos... Ela irá receber tudo o que precisar, mas queremos sigilo sobre esse pequeno incidente da vida do meu filho. - propõe Maria Luísa.

—Então vocês não querem que ninguém saiba sobre a Maria Luísa? - questiona Anna horrorizada.

—Não queremos. Acho que esse pequeno deslize  poderá prejudicar meu filho e sua carreira, permanentemente. Mas não preocupe, daremos um jeito dela ter uma vida confortável.

—Quero que a reconheça como membro da família de vocês - exige Anna transtornada - Quero o nome de vocês na minha filha. Caso contrário, levarei esse deslize a público.

—Como quiser. Assim que essa criança nascer, mandarei um advogado com a papelada e a autorização para colocar o nosso nome. Mas quero que saiba que a partir do momento em que ela usar o nosso nome, nós teremos o direito a guarda e poderemos reivindicar a criança, quando quisermos.  Você aceita o acordo?

—Sim - responde Anna sentindo asco ao aceitar.

— Então em breve receberá toda a documentação necessária. Passar bem - finaliza Maria Luísa.

Ela demora ainda para colocar o fone no ganho, tenta se convencer de que aquilo seria bom para sua filha, mesmo sentindo que tinha vendido sua alma para o Diabo.Ela toca em sua barriga, chorando:

— Desculpa por estar fazendo isso com você , meu bebe. Espero que um dia entenda que é para o seu bem.

Assim que Aline chega do serviço  , Anna conta da conversa nada agradável que teve, deixando a amiga contrariada.

—Eu não quero o dinheiro desse povo! - diz Aline socando a mesa da cozinha —Eu prefiro continuar pegando turnos extras no bar do hotel a aceitar qualquer coisa deles! Como Pôde fazer isso?

— Você não tem a obrigação de nos sustentar, Aline - argumenta Anna — Agradeço o que está fazendo, mas não quero que se mate de trabalhar por nós duas.

—Anna, vocês são a família que... eu nunca tive - responde Aline — Eu não posso aceitar isso. Eu jamais deixaria que uma irmã minha tivesse que submeter a esse tipo de coisa. E você é a minha irmã, a Malú não precisa deles. - cita o apelido que deu a criança, já que odiava falar o nome que era o mesmo da matriarca dos Almeida. — Pois eu faço qualquer coisa por ela.

—É tarde demais - diz Anna — Eu aceitei. E mesmo que você seja contra e me odeie, não posso mudar isso. Sinto muito.

—Então prometa que esse dinheiro será usado somente com a Malú. - diz Aline — Pelo menos ela terá tudo o que precisar.

—Eu pensei nisso quando liguei. - confessa Anna emocionada— Quero que a minha filha tenha a oportunidade de ser alguém que eu perdi por amar... Por amar o pai dela incondicionalmente.

— Depois de tudo isso, ainda o ama? - questiona Aline — Depois de toda a prova do Thiago ser mau caráter?

—Sim. Eu amo e infelizmente, acho que estou fadada a amá-lo para sempre - diz Anna chorando — Eu rezo para tirá-lo da minha vida, para esquecê-lo, mas no fundo tenho esperança que ele não está aprovando esse tipo de coisa. Que ele nem sabe o que a mãe dele está fazendo. Eu sei que um dia vou revê-lo e tudo virá à tona e espero que Malú o receba de braços abertos. Tenho um pedido a fazer para você.

—Diga. Faço qualquer coisa - responde Aline

—Não quero que Malú descubra sobre nada disso. Quero que ela tenha a oportunidade de conhecer o pai sem nenhuma influência. Desejo que ela tenha seus próprios pensamentos a respeito dele. Prometa que fará isso, mesmo se algum dia eu faltar a minha filha, não quero que ela saiba de nada disso.

— Tudo bem - diz Aline — Não concordo, mas você é a mãe sabe o que é melhor para ela.

— Eu espero que sim - responde Anna tocando em sua barriga.

M

Belo Horizonte, 24 de dezembro de 1998.

Aline procura nervosa algo no sofá, onde está Anna deitada com seus pés inchados e sua barriga de nove meses.  Ela não tinha reparado como os últimos meses tinham passado tão rápidos.

—Tem certeza de que ficará bem? - pergunta Aline pela décima vez — Eu fico em casa, você sabe que não gosto muito de comemorações. A gente come um miojo, assiste a um filme de natal, choramos um pouco e rimos. Ou você vai comigo e nos divertimos fofocando sobre o pessoal do hotel.

— Agradeço o convite, mas ninguém vai querer uma pata choca dançando no salão - diz Anna sorridente — Sem contar que nem posso mais, já que a Malú ainda não quer sair. E não quero que fique aqui comigo, você precisa se divertir. Esses últimos meses você só trabalhou, não é justo que fique em casa. Vá e se divirta por nós duas.

— Tudo bem - diz Aline, respirando fundo — Mas prometa que vai ligar naquele número que eu deixei na geladeira, se acontecer qualquer coisa. QUALQUER COISA! Até um chute, você me liga.

—Não se preocupe - diz Anna — Se algo acontecer será a primeira, a saber. Agora vá e espero que se dê bem essa noite.

— A noite promete, mas eu pretendo voltar para casa cedo.

— Aline - repreende Anna — Só tem uma grávida aqui e sou eu.

—Sim, mas eu não vou sair do seu lado enquanto a Malú não nascer, pode esquecer. - ela anda até a porta e diz — Não se esqueça de ligar.

— Tudo bem - diz Anna olhando Aline fechar a porta e murmura — Sortudo será o homem que tiver você ao lado dele.

 

M

Anna acorda sentindo sua cama molhada, ela se levanta e percebe que sua bolsa estourou. Vai à cozinha e olha para o relógio que indicam ainda serem dez horas da noite. Ela tenta por algum tempo, contato com Aline sem sucesso, até que sua primeira contração acontece. Ela decide então colocar um vestido e tentar pegar um táxi ou ônibus.

Assim que chega a rua, nota que será difícil conseguir um transporte, pois o ponto de táxi está vazio e não parece que passará um ônibus aquele horário. Tenta acionar o síndico, mas ele já não se encontrava no prédio. Sobe mais uma vez ao seu apartamento e tenta ligar para Aline, mas ninguém atende. Respira fundo e tenta ligar para a maternidade e pedir uma ambulância, sem sucesso. Pega sua mala de maternidade e caminha novamente para a rua. Anda devagar até ter mais uma contração que a faz segurar em um dos portões de sua rua. Sabia que no ritmo que estava, acabaria dando a luz na rua. Respira fundo e se endireita, segura as próximas contrações o máximo que consegue. 

Já está próxima a rua principal, quando vê um ônibus encostado na linha. Tenta caminhar mais rápido, erguendo os braços para tentar chamar atenção do motorista. Faltava um pouco mais de uma quadra , quando uma contração forte a faz arquear em cima de sua barriga , quando olha para o ponto, vê o ônibus se afastando, alheio à sua dor. Tenta gritar, mas apenas um sussurro de pare sai de sua garganta.

 Tenta andar, mas a dor é quase insuportável. Meu Deus, não posso ter meu bebe, aqui. Por favor, me ajude. Não nos desampare, agora. Por tudo o que é de mais sagrado, pela minha filha, me ajude. É tudo o que te peço, pensa Anna olhando para a noite quase sem estrelas.

— Venha, eu vou te ajudar - diz uma voz masculina, atrás de Anna. As súplicas da moça foram atendidas.

 

M

Ícaro era o nome do homem que corria com seu carro para a maternidade. Anna não teve tempo de perguntar muito a respeito dele, pois suas contrações mal a permitiam respirar. Ele tinha uma aparência jovem, deveria ter entre 30 e 35 anos, cabelos castanhos muito bem cortados, usava um terno escuro, parecia um uniforme. Um segurança, talvez, pensa Anna o encarando de relance. Tinha a sensação que o conhecia de algum lugar.

Eles dão entrada pela emergência do Pronto socorro, mas não permitem que Ícaro a acompanhe até a sala do parto.

— Muito obrigada por tudo - diz Anna emocionada segurando a mão dele, enquanto o enfermeiro empurra a cadeira de rodas. — Que Deus o abençoe e lhe dê tudo o que deseja. Espero um dia recompensá-lo por esse ato, se nos reencontrarmos.

— Nós vamos nos reencontrar antes do que imagina Anna - diz Ícaro enigmático, soltando da mão de Anna que o encara confusa.

Ela tenta olhar para Ícaro mais uma vez, porém as portas da emergência a impedem. Ela respira fundo e tenta se concentrar no que é mais importante naquele momento: Maria Luísa.

 

M

—Empurra - ordena o médico entre as pernas de Anna. Assim que o obstetra avaliou a dilatação de da jovem, decidiu que o parto normal seria o mais indicado, já que o bebe estava na posição correta - Força Anna!

—Errrrrrrrrrr...    AAAAAHHHHH- geme Anna, forçando cada vez mais a saída de sua filha. Ela deita na cama, cansada e desesperada —Eu não aguento mais! Eu não vou conseguir.

—Anna, você conseguirá - diz enfermeira ao lado da moça —Esse será um belo presente que dará a todos nós. Então, se quer essa criança, faça por merecer e a ajude a conhecer o mundo.

— Está pronta? - pergunta o médico — Eu preciso que empurre com toda a sua força. Agora!

—Eeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrr... rrrrrrrrrr ...  Errrrrr...  Aaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaa hhhhhhhhhhhhhh - grita Anna se contorcendo na cama, enquanto sente um puxão em sua barriga. Ela se joga novamente na cama, ofegante. Sente o suor de sua testa correr pelo seu rosto. Mas nada daquilo importava, só queria ver sua filha.

Em poucos minutos o choro do bebe ecoa pela sala de cirurgia, fazendo Anna sorrir. A enfermeira arruma à recém-nascida e a coloca nos braços da loira que chora emocionada. Ela toca os cabelos negros de sua filha e beija sua testa. Segurando a pequena mão, diz sorrindo entre as lágrimas:

— Bem vinda ao mundo Maria Luísa, minha Malú.

 

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Capítulo 1

A chuva fina era o detalhe que faltava para aquele cenário melancólico que ocorria no cemitério. Ela não tardou a cair pegando todos os que estavam no enterro de surpresa. Mas Maria Luísa Braga de Almeida  não se importava com a chuva , com as pessoas , nem com o fato do pai dela estar segurando em seu ombro ,como se fosse uma pessoa presente em sua vida. Ela o  afasta e se aproxima do caixão, com Lírios em suas mãos, flores que sua mãe cultivava. Seus cabelos negros e compridos caíam como uma capa no rosto dela ao jogar as flores em cima do caixão, passando a mão por ele todo, até chegar onde estaria o rosto daquela a quem amava: Ana Braga, sua mãe. Lágrimas escorrem pelo rosto da jovem de dezesseis anos que não consegue pensar em como seria sua vida, daquele momento em diante. 

Você me prometeu, disse que jamais me abandonaria e agora?  Por que me sinto tão sozinha? Por que não sinto você perto de mim? Por que está me deixando com ele?Diz algo! Reaja! Mostre que isso tudo é uma mentira! Levante-se daí! Dá-me um abraço! Cante para eu dormir!  Faça algo! Você disse que éramos nós duas contra o mundo, mas me deixou sozinha! pensa Malu fechando as mãos e batendo levemente no caixão enquanto chora com mais força. O pai a afasta de perto do caixão para que o mesmo pudesse ser finalmente enterrado.

Conforme o coveiro lançava a terra para dentro da vala, Malu sentia sua vida indo junto. A dor era insuportável , quando ele finalmente terminou , ela já não tinha mais forças para continuar de pé, sendo amparada por seu pai. As pessoas que acompanharam o enterro seguravam em sua mão, prestando condolências. Umas rápidas, outras demoradas, mas todas com a palavra pêsames no final. Malu não prestava atenção em nada daquilo, só queria sua mãe de volta. 

— Vamos embora, Malu - diz o pai dela com a voz triste. Ele olha para o céu que está mais escuro, parecendo noite e diz — Precisamos ir logo a chuva ficará pior.

Malu não responde, pois não sentia a menor vontade de tomar nenhuma decisão a partir de agora. Por ela, ficaria ali para sempre, assim como sua mãe. Sem receber a resposta, ele a conduz para a saída do cemitério. Abre a porta de seu Maseratti Quattroporte preto estacionado na entrada, fazendo Malu entrar no banco do passageiro. Ele entra pela porta do motorista e liga o carro, dirigindo pelas ruas de Belo Horizonte.

—Para onde gostaria de ir? - pergunta o pai enquanto está parado no sinal.

— Para sete palmos do chão - responde Malu olhando pela janela. Ela o encara com seus grandes olhos azuis e diz — Ou para o mais longe possível de você, Thiago.

M

Thiago de Almeida, esse era o nome do pai de Maria Luísa, também conhecido pelas más línguas, como o playboy que fugiu quando descobriu a gravidez de sua namorada. Filho de um importante Juiz de Curitiba veio para Minas Gerais para fazer o Curso de direito na federal do estado. Lá conheceu a acadêmica de Letras, Anna Braga e desse amor, surgiu Maria Luísa. Rejeitada por seu pai antes de nascer, sendo criada por Anna, que parou a faculdade e foi trabalhar como recepcionista de um hotel para sustentar a filha, sozinha, pois seus pais já eram falecidos. Apesar de tudo, Maria Luísa cresceu em um lar feliz, mesmo sem a presença do pai. Anna  nunca falou dele para a filha, não achava necessário que ela soubesse o tipo de pessoa que seu pai era. Malu já sabia da história desde os sete anos , quando chegou da escola escutou a melhor amiga de Anna , Aline , falando a respeito de Thiago. Sabia que ele tinha sido um covarde e fugido na hora em que sua mãe mais precisou. 

Além do fato dele enviar dinheiro mensalmente, como uma forma de impedir que Anna  revelasse aquele segredo para a mídia, não tinha qualquer contato com ele. Só quando a mãe esquecia algum recorte de jornal de Curitiba mostrando que ele havia se candidatado a senador do estado, ou alguma revista falando do noivado dele com uma advogada, mas nada sobre ela.  Malu sempre acreditou ser o segredo indesejado por seu pai, apesar dos esforços de sua mãe para fazer aquela ideia sair de sua cabeça. Anna usava o dinheiro para  pagar uma boa escola para Maria Luísa, roupas, alimento  e tudo mais o que a menina desejasse, que no caso, sempre  teve vicio por livros. Influenciada fortemente por Ícaro que se tornou amigo de longa data de sua mãe e o "relacionamento complicado" de Aline.

Apesar de ser uma figura presente na vida das três, nenhuma sabia muito da vida daquele homem misterioso, a não ser que seu trabalho exigia que viajasse toda semana. Com o passar dos anos aquilo deixou de ser importante, já que ele fazia de tudo por elas, sempre que precisavam. Acabou se tornando a figura paterna que Malú precisava.

Os anos passaram tranquilamente, até a um ano atrás, quando Anna desmaiou no serviço , sendo levada ao médico. Lá descobriu que tinha um tumor inoperável no cérebro e pouco tempo de vida. Quando contou a Malú, sabia que estava na hora de contar sobre o pai dela e acioná-lo.

— Você precisa ser forte – diz sua mãe — Por nós duas.

— Mas eu não quero ser forte – diz Malu chorando —Eu quero que você fique comigo.

— Eu sempre estarei com você  , minha querida – diz Anna abraçando a filha.

— Mas eu quero você, aqui comigo, viva – diz Maria Luísa.

— Não será possível – diz Anna. Ela sorri — Deus quis que eu tivesse de ir para que possa  conhecer seu pai e ficar com ele. 

— Eu o odeio, prefiro que ele morra ao invés de você – diz Malu revoltada.

—Nunca mais diga isso! – diz Anna brava — Ele não é mau, como pensa. Assim que conhecê–lo, mudará  de ideia. – ela toca nos longos cabelos da filha— Você tem os mesmo cabelos que seu pai, os mesmos olhos, a mesma boca e o mesmo temperamento. Não tenha raiva dele. Ame-o como eu, pois ele me deu você.

— Não posso – diz Malu fechando os olhos.

— Faça isso por mim – diz Anna tocando no rosto da filha — Quando eu me for quero que o ame como eu te amo, promete?

— Vou tentar – diz Malu abraçando a mãe novamente.

Thiago não apareceu nos primeiros meses de quimioterapia, nem na radioterapia. Muito menos quando Anna perdeu os cabelos loiros. Doía em Malu, ver sua mãe esperar ansiosa a cada vez que sua porta abria, ou quando um homem com o jeito de Thiago passava. Depois de um tempo, Ícaro lhes disse que precisava viajar, dessa vez não tinha certeza se voltaria.

— Adeus, meu querido amigo - diz Anna se esforçando para sorrir. Sua voz está cada vez mais fraca — Muito obrigada por tudo o que fez por nós. 

— Eu quem agradeço Anna. Você é um anjo, tenho certeza que irá para um lugar melhor - diz Ícaro beijando as mãos dela —  Me perdoe por tudo o que fiz... Perdoe-me por qualquer mal que eu tenha feito a sua família. 

— Você que foi um anjo em minha vida - diz Anna, deixando uma lágrima cair por seu rosto —E na vida da minha Malú. Você é um homem bom, Ícaro. Eu tenho certeza disso. Não tenho motivos para lhe perdoar.

Ele solta as mãos de Anna e sai do quarto praticamente correndo. Ele se encosta-se à parede, chorando. 

— Então você vai embora mesmo? - questiona Aline se aproximando daquele a quem entregou seu coração todos esses anos. Ela segura todas as suas lágrimas, pois não acha que ele mereça nenhuma delas — Vai deixar a Malú, quando ela mais precisa de você?

— É preciso. - responde Ícaro se controlando — É mais difícil para mim do que qualquer uma de vocês possa imaginar. Se eu ficar a situação será pior. Mas acredite, eu sempre estarei de alguma forma ao lado da Malú.

— E quanto a mim? - pergunta Aline se aproximando — Quanto a nós? Você pensou nisso também?

— Aline - diz Ícaro a abraçando — Você é a melhor coisa que já me aconteceu, mas não poderemos ficar juntos. Um dia você entenderá o motivo e espero que compreenda as minhas razões... Espero que seu amor supere... Tudo...

—Não há razão quando se ama... Foi o que você me disse... Ou se esqueceu?

—Eu sinto muito.

Antes que Aline pudesse responder, ele se afasta indo em direção a Malú que acaba de chegar ao hospital, ainda está vestida com o uniforme da escola. Ele a abraça.

—Não vá - sussurra Malú encostando a cabeça no peito de Ícaro — Como vou conseguir passar por isso sem você?

—Você é mais forte do que parece - diz Ícaro. Ele abre seu terno, tirando um livro dele — Espero que goste.

-—Teardrop: lágrima? - pergunta Malú confusa, lendo o título do livro que tinha uma capa com uma jovem que tinha um vestido feito de água.

—Sim, tenho certeza que irá gostar - afirma Ícaro.

—Espero um dia te reencontrar - diz Malú triste.

— Isso acontecerá antes do que possa imaginar - afirma Ícaro, dando um beijo na testa de Malú. — Até, mocinha

— Até - diz Malú vendo Ícaro se afastar. Ela corre até ele e diz — Eu queria que você fosse meu pai, pois eu já o amo como se fosse. --Eu te amo como se fosse minha filha , desde o primeiro dia - diz Ícaro emocionado - Até breve.

 

M

Anna já não levantava da cama e mal ficava acordada, quando Thiago apareceu. Aquela semana tinha sido a mais alegre para Anna, fazendo Maria Luisa se esquecer da raiva que sentia por ele. Uma noite, Anna pediu que deixasse Thiago ficar a sós com ela, deixando Malu preocupada. Na manhã seguinte, Anna pediu para falar com Aline. Assim que a mulher entrou no quarto, sentiu que seria a despedida.

—Olá, minha irmã - diz Anna com sorriso fraco. — Vou sentir sua falta, minha grande companheira de vida.

— Olá minha querida irmã - diz Aline segurando na mão daquela que foi sua amiga por mais de uma década. —Eu sentirei falta de você muito mais do que imagina.

—É o fim - diz Anna tristemente —Mas não posso ir embora sem antes lhe pedir um favor, prometo que será o último.

— Eu nunca me importei em fazer nada por você. Eu faria tudo de novo, mil vezes - diz Aline sentindo as lágrimas rolarem pelo seu rosto cansado. Não lembra a última vez que dormiu naquela semana.

—Eu sei... Mas esse favor exigirá muito de você - diz Anna, enquanto se ajeita na cama. A morfina não fazia mais efeito aquela altura — Preciso que ajude Thiago a ser o pai da Malú.

—Não... Isso não Anna - diz Aline inconformada — Ele não merece. Peça-me qualquer coisa, menos ajudar aquele crápula.

—Você não entende agora... mas uma hora... saberá ... Toda a verdade. Eu conversei... Com ele... E sei tudo... Sobre o Ícaro... Sobre ele... Sobre nós...

— O que você sabe? - pergunta Aline curiosa.

—Não poderei contar agora, pois temos companhia - diz Anna olhando para porta. Ela respira fundo e diz em voz alta —Entre Malú , precisamos conversar.

Malú entra no quarto, se perguntava como a mãe sabia que ela estava escutando perto da porta.

—Oi, meu amor - diz Anna tentando se arrumar na cama — Como você está linda.

—Obrigada - murmura Malu — Como à senhora está?

— Feliz - responde Anna com um sorriso fraco — Você sabe... Precisamos conversar.

—Não estou pronta, mamãe - diz Malu chorando.

— Não chore, meu bebe - diz Anna tentando não chorar — Chegou a hora. Você sabe que isso aconteceria... Eu preciso te falar uma coisa.

— Pode falar - diz Malu de cabeça baixa.

— Eu conversei com o Thiago - diz Anna devagar— Ele ficará com a sua guarda. Não me olhe assim... É o melhor a fazer... Sei que um dia entenderá... Ele precisará de você... Tanto quanto você precisará dele...

— Me deixa com a tia Aline, mãe - argumenta Malu — Eu nem o conheço.

—Mas vai conhecer... Eu sei que se darão bem... - alega Anna segurando na mão de Malu. —Ele é sua família agora... Ele será um bom pai. Só quero que saiba que eu vou te amar eternamente e sempre estarei com você. Sempre que precisa de mim, estarei ao seu lado. E em nome desse amor, quero que prometa que será boazinha com ele... Promete...?

— Mamãe... Se eu prometer... A senhora vai embora - diz Malu nervosa chorando —Não quero que vá, eu não vou conseguir ser legal com ele.

— Por favor, meu anjo... - diz a mãe dela com a voz fraca— Por favor... Prometa... Prome...

O aparelho dispara ao lado de Malu, sua mãe estava sem batimentos cardíacos. Uma equipe rapidamente entra no quarto, tentando reanimá-la, em vão. Anna tinha morrido. Maria Luísa atravessa o hospital atrás de Thiago quando o encontra esmurra seu peito.

—Você matou a minha mãe! Eu te odeio! Odeio você! Você deveria ter morrido! - explode sendo segurada por ele que a abraça.

 

M

Agora estavam ali, na casa de Maria Luísa, na sala de estar.  Thiago se espreguiça tirando o terno preto e a encara sério.

— Amanhã cedo iremos para Curitiba, já falei com sua avó e ela já conseguiu uma vaga  na melhor escola, além de providenciar que seu quarto seja o melhor. - diz Thiago tentando puxar assunto. Ele sorri levemente e confessa — Você me lembra um pouco a sua mãe... Seu corte de cabelo... É o mesmo que ela usava...

— Quando você a abandonou? - pergunta Malu ríspida.

— Desculpa se fiquei longe todos esses anos - diz Thiago de cabeça baixa.

— Foram dezesseis anos, mais precisamente. - corrige Malu irritada. — A minha vida sem pai, estava ótima. Eu não preciso de você! Faz um favor: Não fala comigo.

Antes que Thiago pudesse argumentar, Malu subia as escadas correndo. Ela tranca a porta o quarto de sua mãe e olha para o espelho. Realmente lembrava um pouco a sua mãe, mas ao invés de ficar feliz, ela ficou com raiva da imagem. Pega a tesoura que sua mãe guardava dentro da gaveta da penteadeira e encara o espelho mais uma vez.

Ela segura uma mecha de seu cabelo e a corta, enquanto chora. Não queria lembrar de sua mãe... Ela pega mais um maço do seu cabelo e corta com raiva, sem se importar se vai ficar desigual... Não queria que Thiago dissesse mais aquilo... Pega sua franja e a corta impiedosamente. Cada vez que lembra do dia que teve, sente mais vontade de cortar seu cabelo, sendo dominada pela raiva. Mecha, após mecha, caí no carpete do quarto, junto com as lágrimas da jovem. Quando terminou, seu cabelo estava muito curto e em alguns pontos apareciam seu coro cabeludo. Ela larga a tesoura na penteadeira e vai para a cama de sua mãe, onde chora ate pegar no sono.

 

M

Malu acorda com batidas em sua porta, ela a abre deixando Aline entrar. Assim que sua tia a vê ficava perplexa.

—O que fez com seu cabelo, Malu? - pergunta Aline irritada. Ela toca na cabeça de Malu — Você estragou seu cabelo, menina. Por que fez isso?

Maria Luísa abre os lábios para responder a sua tia, mas algo está errado. Ela não escuta nada saindo de sua boca. Aline continua a encarando, deixando a jovem mais nervosa. Sua voz não saía a desesperando.

— Malu? Você está bem? - pergunta Aline nervosa, segurando Malu pelos ombros — Responda! Fale alguma coisa! Anda Malu.

Mas nada saía mesmo Maria Luisa tentando. Ela se esforça ao máximo, mas não sai nenhum grunhido, nada. Estava sem voz. Ela entra em pânico, respirando mais ofegante. Ela começa a ver o quarto rodar cada vez mais. Sente suas forças sumirem e a última coisa que vê é o retrato de sua mãe no criado mudo.

— Thiago! Ajuda! - Grita Aline segurando Malu já desfalecida. — A Malu não está bem! Ajude-me! Alguém me ajuda!

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Capítulo 2

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Capítulo 3

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Capítulo 4

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